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Tenho um cajueiro no quintal da minha casa que é uma grande fonte de inspiração. Me considero uma pessoa contemplativa pois observo o que me circunscreve. Meu trabalho espelha essa faceta ao olhar fixamente para os movimentos. A sombra, a água, o virar da página, o pôr e o retirar, fazem parte do meu repertório. Nomeio-os realismo imaginário, já que mostram o real filtrado com ares de ficção, como se fossem da “matéria que os sonhos são feitos”.  São colagens, bordados, gravuras, aquarelas e nanquins, que retratam paisagens familiares, mas ao mesmo tempo não são correspondentes. Aparecem palavras, ou não, em formas de poesia de livros de artistas: acredito que os poemas estão para os ouvidos assim como a cor está para os olhos. Me apego a resiliência e a simplicidade.

CECILIA BICHUCHER

Cecília é uma artista viajante, pois sua vida sempre a levou para longe. Os portos perderam funções e as fronteiras passaram a ser seu cotidiano.
Os artistas viajantes carregavam seus materiais de trabalho como caramujos errantes. A aquarela oferece esse acesso rápido às urgências de um artista e Cecília usa sua arte como pátria, pois é nela que reside e resiste.
Aviões, alfandegas, passaportes e bilhetes de trem não encontram lugar nessa mostra, pois Cecília desde sempre inutilizou bússolas, ignorou fusos horários e dispensou rosa dos ventos em prol de seguir criando em trânsito. O que a engendra são os pequenos detalhes não ordinários de onde passa. Assim como Jobim em seu mantra “Águas de Março”, Cecília confere relevância aos brotos que teimam em nascer em asfaltos, outorga nobreza ao peixe nervoso de lagos e parques e atenta aos gritos alegres das crianças ao longe, resolve registrar tudo em aquarela.
Teias, rodas, barro, plantas aquáticas e sonhos compõem o jardim de seu tempo. Parte é memória e parte é ficção nessa delicada poesia.

WILSON NETO